Morada é o lugar onde algo se encontra, seja de maneira permanente ou temporária. É aquele lugar simboliza isso. Um estar, mesmo que passageiro.
A primeira vez que estive ali, tive uma sensação de não querer estar. Havia, em mim, uma sensação de pena e justiça.
Após visitas constantes, estreitei meu relacionamento com aquele lugar e, com a fotografia, transformei o meu antigo olhar, percebendo detalhes e diferentes pontos de vista. Desloquei o olhar para o seu interior, suas cores, objetos e o que representava aquele espaço. Passei a ver as diferentes camadas encontradas ali.
Lugar pequeno. Objetos do dia a dia sobre a bancada. Gambiarras nas paredes, mostrando o improviso das adaptações elétricas que, mesmo imperfeitas, tinham formas interessantes.
Um cenário que passou a surpreender meu olhar e despertou, em mim, algumas reflexões.
A arte do pouco e do simples, das cores e texturas das paredes. Seus riscos, desenhos e mensagens. A roupa laranja e pendurada. O raio de luz que entra, suave, pela pequena janela e ilumina aquele ambiente de uma dureza própria.
Um lugar que serve de morada para pessoas em uma situação de restrição de liberdade, mesmo que momentânea, e que retrata a relação com o ambiente em que estão. Expressam valores e sentimentos de um pequeno grupo que ali vive, no limite de seus espaços.
Há uma diferença no tempo de quem está dentro para o tempo de quem está fora.
Escolhi a fotografia para apresentar aquele lugar e não representar nem identificar pessoas. Entender o significado daquele espaço, mostrar o invisível e instigar interpretações.
O cenário é o mesmo. A diferença está nos detalhes e no olhar.
As escritas na parede, quando permitidas, são formas de expressão, de enaltecimento a alguém, de lembrança da família, de sua crença, de um erro no passado. Uma forma de desabafo de quem não pode chorar.
Há, ali, uma sensação de ausência e presença. Uma solidão compartilhada. Um lugar em que se vive uma experiência múltipla, com luz e sombras, cheios e vazios. Um lugar de reflexão e que nos impõe reflexões.
Procurei, nas imagens, conciliar luz e cor, enfatizar detalhes, buscando um ponto de partida para apresentar esse espaço, seus conceitos e signos.

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