Quando adolescente, adorava escrever poesias. Encantavam-me as rimas e versos, os sonetos. Com o trabalho na área jurídica, toda essa arte foi esquecida/adormecida.
Muito tempo depois percebi, com a fotografia, a poesia das cores, dos olhares e dos lugares. Uma forma de preservar experiências vividas. Perceber detalhes pouco perceptíveis.
Nas idas constantes a um estabelecimento penal, com o objetivo de inspecioná-lo, percebi que a fotografia era uma ferramenta/linguagem que me ajudava a me aproximar de uma outra realidade. Auxiliava-me a refletir sobre aquela experiência que estava vivendo e entender que havia muito dimensões naquele espaço.
Conforme expõe Susan Sontag: “De fato, o triunfo mais duradouro da fotografia tem sido a sua capacidade para descobrir beleza no humilde, no inepto, no decrépito”.
Vi que havia sublimidade e simplicidade naquele espaço e a possibilidade de falar, de forma poética, de um universo comum para mim, mas, ao mesmo tempo, pouco conhecido. Iniciaram, assim, as primeiras séries de fotografias.
Me interessava investigar a percepção de valores e sentimentos não imaginados. Instrumentos de ligação entre passado, presente e futuro, entre o estar dentro e o estar fora, o acerto e o erro, o estar preso e a liberdade.
Assim, experiências ordinárias e pouco significativas se transformavam em algo importante e com um sentido diferente.
Segui buscando pluralizar interpretações com a junção da poesia à fotografia, gerando uma terceira imagem da simbiose dessas duas artes, diferentes, mas que se complementam e, talvez, inconscientemente, retornando ao meu ponto de origem.
Como diz o poeta português Herberto Helder: […] E o mundo, o espelho que as luas acordam e de onde transbordam as águas, sou eu que o contemplo, é ele que me contempla, ou trocamo-nos? Vivemos pelo poder das imagens. […]
Assim, minha pesquisa busca retratar cantos e lugares, explorar a relação do homem com o seu ambiente. Entender essa relação de espaço-tempo, captar vestígios e aspectos significativos do ser humano. E, para além da função visual da fotografia, juntar poesia. E, para além da captura da imagem, encontrar ligação com um universo de referências.